sexta-feira, 30 de março de 2012

Proêmio


Tudo começou assim. Terminamos, acho, em abril de 2011. Havíamos acabado de voltar de uma viagem linda à Europa - minha primeira viagem ao velho continente. Eu ainda comemorava a aprovação no curso de doutorado e me preparava, com todo o fôlego, para essa nova empreitada. Discutíamos muito. Eu estava irritadíssima e nem sabia dizer o porquê. Ficamos quatro sofridos meses separados, voltamos em agosto do mesmo ano. Em seguida, nova crise. Uma bolsa de sanduíche, para que ele fosse estudar em Paris, deflagrou nova separação. E, isso, justamente quando começávamos a nos aceitar, um ao outro, reciprocamente. Enfim, ao longo da reflexão que esse blog tem por finalidade arquivar, essa nota ficará mais evidente. Por ora, só importa o início do sofrimento, como tudo começou. E começou assim:


Pedro,

Consegui um tempinho, estou um pouco melhor, então lá vai:

Bom, você tem licença poética para falar comigo sempre que quiser dividir uma reflexão. Podemos combinar assim? Gostei de ter recebido o seu e-mail.

Não estou chateada com você, e nem poderia. Não acho que eu entenda coisas “pro pior”. Durante a nossa conversa eu entendi o que você me disse, ainda que o entendimento negativo tenha sido o resultado de não mais do que uma infeliz escolha de palavras. Quando você diz que “não consegue ser feliz em um relacionamento”, de fato, o que se comunica é que você não foi feliz no nosso relacionamento. Isso porque nós não estávamos falando de um relacionamento qualquer, abstrato, mas do nosso relacionamento. Nesse caso, inclusive, quem está maculando a nossa história é você, não eu. Por isso, eu insisti que você me explicasse o que quis dizer com essa frase. Mais uma vez, no entanto, isso não foi possível. De toda forma, você pode ficar tranqüilo. Não acredito no que você disse. Seria muito triste acreditar.

Também não tenho a menor intenção de simplificar o que vivemos para, daí, extrair um “sentido” do afastamento. O que eu te peço sempre não é propriamente um sentido cartesiano para o fim, um silogismo, como você mesmo disse, mas uma reflexão. Eu só gostaria de sentir que você está, assim como eu, pensando sobre você, sobre nossas atitudes, erros e acertos. Já te disse isso outras vezes, mas esse exercício é necessário para que possamos ser felizes juntos ou separados. Eu queria sentir que, assim como eu, você está se tornando mais forte com tudo isso. O motivo pelo qual eu digo que quero voltar é porque eu já fiz a minha reflexão, acho que já fiz à exaustão e, por isso, me sinto pronta para um recomeço. Essa minha atitude é de certa forma egoísta, mas, por outro lado, o egoísmo é legitimo nesse momento. Nesse caso, egoísmo é proteção. Uma tentativa de não sucumbir à depressão e ao pessimismo.

Eu reconheço o seu momento e necessidade de isolamento, solidão e reflexão. Considero-o absolutamente justo. Gostaria muito de poder te ajudar nesse caminho. Tudo o que eu queria era poder te ajudar nesse momento difícil. Não posso.

Não posso, em primeiro lugar, porque, como você bem notou ontem, a minha percepção sobre a realidade estará sempre afetada pelo amor e carinho infinitos que eu sinto por você. Não posso, porque esse amor faz com que a distância se torne uma violência contra mim. E não posso, porque não sei lidar com a ambigüidade e com a incerteza, que me machucam muito. Tamanha indecisão se apresenta em mim como um efeito paralisante, que impede, nesse momento tão importante da minha vida, que eu viva, que realize as minhas tarefas e que me sinta, enfim, feliz.

Quando eu disse que precisava de um tempo sem você, não me referia a dias. Meu amor é muito maior do que isso. Tenho a impressão que serão necessários meses, talvez, anos, para que finalmente eu possa me recompor do turbilhão de sentimentos que você me provocou.

Pedro, pra mim, ou melhor, em mim, você se manifesta como contradição. E eu acho que essa é razão de um amor tão forte. Pedro, eu me descubro em você. Não importa se positivamente ou negativamente: Eu me descubro em você. E eu ainda me descubro em você, mesmo à distância. Por essa razão, eu jamais serei capaz de sentir raiva, rancor, arrependimento ou qualquer outro sentimento negativo em relação a nós dois. Essas palavras não fazem e jamais farão parte do nosso vocabulário. Você fez de mim, sem dúvida alguma, uma pessoa melhor. Não tenho como agradecer isso.

Quando eu disse que preciso de um tempo é porque eu não consigo viver sem você. Ainda não. Mas preciso continuar a sobreviver até conseguir viver plenamente outra vez. Que fique claro: Você foi o homem mais importante da minha vida, aquele com que eu fui mais feliz, com quem eu mais me realizei sentimentalmente (e sexualmente). Eu te amo.

Enfim, é uma pena que precisemos passar por tudo isso. Mas, quem sabe, um dia, nós seremos capazes de olhar para trás e ver como tudo isso foi bom!? Como nos transformamos para melhor depois dessa fase horrível... Não quero romantizar o sofrimento. Essa fase é horrível.

Eu só gostaria que você entendesse que eu não podia mais viver aprisionada no que eu sinto por você. Não tenho forças para isso. É muito frustrante... Essa semana eu te pedi ajuda nesse processo de libertação. Sei que é sofrido para você também. Esse foi, todavia, um pedido desesperado de alguém que não agüenta mais sofrer.

Acho, de novo, que você ainda está mal, confuso, fragilizado. Tudo bem. Eu te amo, vou amar sempre, e vou viver com isso, simplesmente. Acontece. É a vida. Por ora, o meu último pedido é que você não pendure o nosso amor na estante empoeirada de livros junto com os Karamazovs. Se você acredita na gente, lute contra esse seu pesar. Eu ainda estou esperando.

Beijos,
Srta. Póloznev
19/05/2011

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